No dia 30 de outubro resolvi participar da campanha do OUTUBRO ROSA. Devo confessar que sempre fiz meus preventivos com um nó na garganta.
Quando soube que minha amiga Rosa Mavignier estava com a doença chorei acho que uns 3 dias. Senti medo. Não sabia como falar com ela. Postei uma foto no Facebook onde eu colocava um lenço na cabeça e disse: ROSA EU TE AMO. Era só isso que eu conseguia dizer.
Rosa me confortou, me acolheu, me esperançou. Rosa me fortaleceu, me inspirou, me repaginou em relação ao Câncer.
No dia 30 de outubro eu fui fazer o meu preventivo. Fui com o nó na garganta (como sempre), notei uma reação diferente na moça que manuseava o aparelho de mamografia e comentei com minha filha.
Uma semana depois o Hospital de Câncer de Barretos (aqui em Campo Grande) me ligou. Quando do outro lado da linha a moça se identificou eu gelei… Eu precisava fazer um ultrassom…Eu fui.
No mesmo dia o Hospital novamente me chama para uma consulta com oncologista… Tremi… Eu fui…
Dois dias depois eu fazia a biopsia… Suspirei…
Novembro não foi fácil… 19 dias de espera do resultado, nesse mesmo mês, dívidas, a perda de um amigo querido, pessoas que me decepcionaram porque eram amigos só quando precisavam de minha compreensão para com os compromissos que tinham assumido comigo. Minha filha doente, sofrendo, cirurgia, dores, choro, dores (e eu pedindo a Deus que passasse a dor dela para mim), a busca de socorro de uma palavra amiga nas pessoas que eu mais amava e um silencio ensurdecedor do outro lado… As duas barrinhas azuis do WhatsApp mostravam que a mensagem tinha sido recebida, mas o retorno não acontecia…
Dia 19 de novembro, recebi o diagnóstico. TENHO CÂNCER.
O medico me deu a noticia sem me olhar nos olhos. Olhando os papeis ele disse:
_ A senhora vai precisar fazer uma cirurgia, porque tem que tirar esse nódulo de sua mama esquerda.
Falou de cabeça baixa.
Ouvi o suspiro de minha neta que me acompanhava na consulta.
A enfermeira em pé ao meu lado segurava um lenço de papel (provavelmente para me dar, caso eu chorasse). Olhei para o médico.
__ Deu positivo para CA doutor?
Ele levantou a cabeça lentamente e pela primeira vez me olhou nos olhos:
_ Sim, dona Marluci.
Acreditem ou não vocês, eu vi minha amiga Rosa naquele momento. Vi seu sorriso!
_ Doutor, Não fique assim. Vou fazer o que tenho que fazer. Sou espirita. Não tenho medo da morte. Eu entendo a morte. Mas vou lutar para viver. Olha pra mim doutor. (ele olhou) O senhor está bem?
Ele sorriu… Um sorriso amarelo… Sem graça…Sem jeito…
Minha neta me olhava com a respiração trancada no seu olhar.
Olhei para ela e disse:
__ Estou bem filhinha. Vovó não vai morrer de câncer. Vovó vai morrer de raiva. E do coração. Vai ser que nem tia Astrea. Não vou agonizar nem sofrer. Não vou embora agora.
Saímos de lá e fomos para a psicóloga, ao lado da sala do médico.
Um amor de pessoa… Já entrei acalmando-a e dizendo que eu estava bem. Falei o tempo todo sobre a vida, sobre o espiritismo, sobre medos, sobre enfrentamentos… Ela me olhava com os olhos arregalados e só conseguiu me dizer que gostaria que eu voltasse para vê-la porque ela precisava de mim.
No caminho para casa fiquei pensando como falar para meus filhos. Eu sabia que seria um choque para eles; mas eu conheço as almas que eduquei. Conheço os filhos que criei. E pensei:” não vou envenena-los aos poucos. Se um gole ou um copo de veneno tem o mesmo efeito, então vai ser um copo em um único gole”. Falei. De uma vez só, de supetão. Não dei tempo para o susto tomar conta deles. Completei mostrando que “AQUI É CASTRO!!!”, como diria meu velho e amado pai.
Nesses três dias que tenho consciência de que estou convivendo com o câncer resolvi me apresentar a ele. E acho que já o convenci de que não vou trata-lo como inimigo, vou cuidar dele. Vou cura-lo. Vou transmutar a energia ruim que ele carrega em si para que ele se sinta menos invasivo, menos destruidor. Não posso tratar mal quem me ensina alguma coisa… Sou professora, sei o valor do ensinamento.
E posso garantir que o câncer já está me ensinando muita coisa.
Ter câncer não é uma sentença de morte, é só um aviso de que terei dias de tempestade vindo por aí e que terei que me preparar para enfrenta-la.
O que não quero é ser alvo de olhares de compaixão e ter que suportar a ideia que os outros têm de que eu vou morrer e pronto.
Tantas outras doenças graves e silenciosas matam até mais do que o câncer, mas não provocam nas pessoas esta ideia catastrófica… É preciso mudar essa mentalidade nas pessoas.
Uma coisa ele já me ensinou; que pela força do estigma, ele tem o poder de modificar para sempre quem o enfrenta.
Em apenas 3 dias de convivência consciente ele já me ensinou que devo mudar o hábito olhar para o ontem e para o amanhã, me mostrou que minha vida sempre foi e deve continuar sendo uma sucessão de “hojes”.
Didaticamente me remeteu às mágoas do passado e aos medos do futuro e me mostrou que há dias bons e dias ruins – e que ambos passam.
Me ensinou que ao invés de eu perguntar revoltada: PRO QUE EU? POR QUE COMIGO? Eu devo perguntar POR QUE NÃO EU? __ e perguntar de forma tranquila.
Em três dias ele já me curou do pouco de vaidade que eu tinha…rs.
Me mostrou que eu vivendo o hoje, devo usar o dinheiro que tenho para viver o hoje. Então… enlouquecida de vontade de comer sushi, mesmo estando com dinheiro contado para pagar contas e terminar o mês, eu pedi sushi e saboreeeeiiiiiiiiiii cada pedaço com um prazer único e inigualável.
Em três dias de convivência consciente ele me mostrou o quanto eu sou feliz quando canto, e eu que já tinha decidido parar com a música, me vi ligando rádio, cantarolando em capela as musicas que eu mais gostava de cantar quando era uma “cantora da noite”
Em três dias de convivência consciente ele me fez diminuir as postagens em redes sociais sobre um governo desastroso, inescrupuloso e funesto para o país…
Pra que poluir minha leitura, minha escrita, meus dias com a loucura e o desrespeito dos insanos?
Pra que me empenhar em abrir os olhos do cego se ele tem a retina deslocada e transloucada? Deixa isso pra quem tem gás pra queimar… Meu gás agora é para fazer café… (adoro café).
Em apenas três dias de convivência consciente ele trouxe amigos novos, trouxe de volta amigos antigos e me surpreendeu com tanta vibração positiva.
Ele me mostrou que o amor vem de onde menos se espera e que amor as vezes é tão grande e tão forte que nos constrange.
Se você me leu até aqui, peço que respire fundo…Que não sofra por mim, porque eu não estou sofrendo. Estou bem! Estou calma! Estou tranquila! Vou fazer o que tem que ser feito!
E saiba que vou postar sempre minha experiência com ele, minha convivência com ele, minhas brigas com ele e quando ele se for… Vou contar nossa despedida também…
Se eu sou uma influenciadora (como dizem que sou), se as pessoas se espelham em mim (como dizem) então eu tenho que ensinar o caminho que faço, não para derrotar, mas para NÃO SER DERROTADA.
Com amor a todos que me leram até aqui.
Marluci Brasil.